De volta à escola

01-02-2011 23:18

 

Já há algum tempo que senti a responsabilidade de escrever algumas linhas sobre o papel dos pais no acompanhamento escolar dos seus filhos. A Reforma veio possibilitar uma maior intervenção da família na escola e é importante que os pais cristãos evangélicos despertem para esta nova realidade que é também uma responsabilidade de que não se podem demitir e cuja demissão lhes acarretará graves consequências. O papel dos pais não se pode resumir às quatro paredes da casa ou da igreja, ela deve-se estender a outros domínios entre os quais se situa a escola. Se pretendemos um escola em que se respire um ar mais saudável, em que as matérias leccionadas respeitem as opções espirituais e morais da família cristã, se pretendemos uma maior segurança no recinto escolar, se pretendemos da parte do corpo docente da escola uma maior atenção às suas responsabilidades, é fundamental que os Encarregados de Educação assumam o seu papel. Um papel que não é meramente reivindicativo ou policial, mas de contribuição activa para a formação acadêmica, científica, artística, tecnológica, social, moral e espiritual de todos os alunos.

 

É preciso vencer a passividade e pretensa comodidade a que certos factores ambientais nos têm programado. Os queixumes que frequentemente se levantam nada resolverão se não forem substituídos por uma intervenção atempada e consciente do quadro escolar, incluindo também a família.

 

Como pai cristão quantas vezes tem procurado pessoalmente o Director de Turma do seu filho para trocar impressões, para dialogar acerca do aproveitamento, das dificuldades, da integração do seu filho na turma em particular e na escola em geral? Qual é a sua participação e envolvimento na Associação de Pais da escola que o seu filho frequenta? Qual o seu incentivo para que na escola em que o seu filho frequenta venha a existir a disciplina curricular de Educação Moral e Religiosa Evangélica?

 

Poderemos invocar que o tempo escasseia, que são muitas as solicitações que a vida profissional requer, que a Igreja absorve bastante tempo, que o tempo em família também é escasso. Nenhuma delas nos iliba da responsabilidade de no espaço concreto abordar e participar para que a escola seja mais respirável, mais consentânea com os padrões cristãos.

 

Pode-se também dizer que se tem uma confiança ilimitada no comportamento adequado dos filhos que também são crentes, que se fala em casa abertamente sobre a escola e aí são dadas importantes orientações para o comportamento no espaço escolar. Tudo isso é importante e pode estar muito certo, mas nada disso substitui uma participação activa junto dos restantes parceiros do sistema escolar.

 

A nossa vida cristã e testemunho também passam pela visita periódica à escola para ver como as coisas vão e para conversar sobre a sua realidade, para exprimir as expectativas que se têm em relação a ela, sobre as dificuldades que ela enfrenta e sobre a contribuição que como Encarregado de Educação se pode dar.

 

No mínimo dos mínimos cada Encarregado de Educação devia tomar a iniciativa de se reunir com o Director de Turma do seu filho pelo menos uma vez por período. A ausência ao trabalho é justificada pela escola e o tempo empregue e investido será reconhecido como valioso alguns anos mais tarde. Mais que não seja a escola nunca poderá corresponder às nossas expectativas se nós nos coibirmos de participar.

 

Quando a própria escola solicita a participação e intervenção da família, é omissão lamentável não correspondermos enquanto pais cristãos. Não temos o direito de falar mal, quando nos recolhemos na nossa concha e não expomos os nossos pontos de vista.

 

É claro que é importante orar pelos filhos, dar-lhes um bom exemplo, encaminhá-los à igreja... Tudo isso é fundamental, mas isso implica também um acompanhamento positivo do aproveitamento escolar. Não podemos continuar a perfilhar a opinião de que uma boa preparação acadêmica é prejudicial à fé. A incredulidade tem outras causas e quando estas perpassam também pelo sistema de ensino é porque não fomos suficientemente atentos ao que por lá se passava e nos calámos diante dos atentados por ela cometidos. Felizmente que a Igreja conta com os maiores eruditos de todos os tempos, que a par com a sua erudição confessaram abertamente o senhorio de Jesus Cristo. Felizmente que, hoje em dia, nas igrejas do nosso país temos uma fina flor de jovens que obtêm sucesso na sua carreira acadêmica e que simultaneamente pugnam pelos valores espirituais e éticos, que se bebem no evangelho de Jesus Cristo.

 

Terminamos com uma palavra de incentivo a todos os Encarregados de Educação e a todos os alunos que estão envolvidos com a nova disciplina de Educação Moral e religiosa Evangélica nas escola públicas. Considero que é a maior oportunidade que nestes tempos Deus, através dos poderes públicos, tem oferecido à comunidade evangélica. Pouca informação tem havido acerca dos resultados práticos desta disciplina mas pelo que sabemos são bastante encorajadores. O facto de termos uma oportunidade significa que Deus nos pedirá contas do que estamos a fazer com ela. Esta oportunidade é também um dos talentos colocados nas mãos de toda a comunidade evangélica do país, de todos os Encarregados de Educação evangélicos e de todos os alunos evangélicos.

 

Quando temos notícias de posições desastrosas por parte de governos de países tradicionalmente protestantes em relação às liberdades de confissão e profissão da fé nas escolas públicas, devemos levantar as mãos ao céu gratos pelo que Deus nos ofereceu e aproveitarmos, enquanto é tempo, o que nos está a ser oferecido.

 

Fico estonteado com as possibilidades que surgem e têm sido aproveitadas por centenas de alunos e alguns professores de Educação Moral e Religiosa Evangélica nas escolas públicas nos últimos anos. As sementes lançadas darão os seus frutos.

 

Pais e Encarregados de Educação o vosso papel como filhos de Deus passa também por aí!

 

 

Isabel Pinto Pinheiro